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quarta-feira, 7 de julho de 2010

alô alô, i

capítulo um, a obra além do homem.

Sérgio Ribeiro, membro da assembleia municipal eleito pela cdu, propôs um voto de pesar pela morte de José Saramago - voto que veio a ser aprovado por unanimidade -, tendo baseado a proposta numa referência genérica à obra literária dele e a dois factos que marcaram o seu encontro com a realidade oureense: foi um dos fundadores e sócios da livraria e editora som da tinta e, após ter-lhe sido atribuído o prémio nobel da literatura, deslocou-se também a chão de cá para receber o reconhecimento local por ter merecido tal galardão. Ora na circunstância pareceu-me que talvez fizesse sentido destacar não apenas o encontro do homem com ourém mas também o encontro da obra dele com ourém. A propósito, aludi ao facto de um dos romances de José Saramago mais celebrados pela crítica, o ano da morte de Ricardo Reis (lisboa, editorial caminho, 1984), ao longo da parte maior de um capítulo, conter a descrição de uma viagem, ida e volta, entre lisboa e fátima, por ocasião de um treze de maio, o de mil novecentos e trinta e seis. O relato não é histórico e não é canónico, mas não deixa de ser verosímil, atendendo à época e ao carácter da personagem, Ricardo Reis, que fez a viagem. E fiz tal alusão por entender que a passagem referida constitui um recurso que pode ser aproveitado dos modos mais diversos para a promoção e a valorização da condição oureense, à semelhança do que, a escala diferente e por motivo mais imediato, o município de mafra faz a propósito de outro dos romances maiores de José Saramago, memorial do convento (lisboa, editorial caminho, 1982). Depois do que referi, alguém, creio que o vereador José Manuel Alho, aludiu à existência de uma referência ao monumento natural das pegadas de dinossauros da serra de aire num dos volumes de cadernos de lanzarote - conheço apenas uma nota pequena, de diário, referente a vinte de dois de outubro de mil novecentos e noventa e cinco, incluída no volume iii (lisboa, editorial caminho, 1996), não sei se há outra menção - e Sérgio Ribeiro referiu também as páginas dedicadas a ourém em outro livro do autor, viagem a portugal (lisboa, círculo dos leitores, 1981), um guia - apesar de concebido há aproximadamente trinta anos - ainda útil para quem quiser descobrir e espantar-se com a paisagem e as coisas feitas e vividas por aí, o país.

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